5.4 GESTALT E TEMPO

Vimos que o tempo existe a partir da expansão da matéria e que tal relação torna tempo e espaço interdependentes para existirem. Vimos que a compreensão do tempo cronológico pelo mecanismo fisiológico também só é possível através da especialização. A organização dos eventos no tempo cronológico tem em suas durações distancias em uma imagem temporal. Tais relações de eventos obedecem leis de organizações em sua percepção. A organização influencia diretamente nos dados percebidos, estes  que depende de uma rede de significados que são codificados pela memória unindo  percepção a consciência. Esta localiza e quantifica atributos aos fatos e os relaciona com o todo. As relações de organização da parte com o todo são chamadas de Gestalt.

 

5.3 AGRUPAMENTO PERCEPTUAL – WERTHEIMER

Pode haver, e na maioria das vezes há, mais de dois elementos na forma: nesse caso, o que seria figura? E fundo? Por quê? Max Wertheimer, tido como o fundador da teoria da Gestalt, propõe em seu “Raciocínio Visual” certos princípios, a seguir:

1) Proximidade
Em condições iguais, eventos próximos no tempo e espaço tenderão a permanecer unidos, formando um só todo:

OO OO OO OO OO OO OO
OO OO OO OO OO OO OO
OO OO OO OO OO OO OO

2) Semelhança
Eventos semelhantes se agruparão entre si:

O X O X O X O X O X O X O
O X O X O X O X O X O X O
O X O X O X O X O X O X O                         
(Maiores detalhes em 8.3)                                                                                                                                        

Essa semelhança se dá por intensidade, cor, odor, peso, tamanho, forma etc. e se dá em igualdade de condições.

3) Semelhança + Proximidade
É a simples adição dos dois princípios anteriores, se em condições iguais.

OO OX XO OO
OO OX XO OO
OO OX XO OO                                                 
(Maiores detalhes em 8.2)

4) Lei da Boa Continuidade
É o acompanhamento de uns elementos por outros, de modo que uma linha ou uma forma continuem em uma direção ou maneira já conhecidas:

____|____ = ________ |                              ( maiores detalhes em 8.5)

5) Pregnância
Há formas que parecem se impor em relação às outras, nos fazendo, por muito tempo, não conseguir ver outra forma de distribuição:

OO OO OO OO OO OO OO OO OO
OO OO OO OO OO OO OO OO OO
OO OO OO OO OO OO OO OO OO                
( maiores detalhes em 8.1)

6) Destino Comum
Há certos elementos que parecem se dirigir a um mesmo lugar, se destacando de outros que não o pareçam.

7) Persistência do Agrupamento Original
Em todas as formas, todos os estímulos, os elementos aproximam-se uns dos outros e tendemos a fazer com que os grupos continuem os mesmos.

8) Experiência Passada ou Aprendizagem
É a subjetividade do percebedor: para cada um a percepção pode ser diferente, de acordo com  a experiência do indivíduo, de acordo com o que ele já viveu ou aprendeu, conheceu. Tomemos como exemplo um texto qualquer: para um analfabeto ou alguém que não conheça a língua em questão, parecerá uma confusão completa, mas, para aquele que saiba ler ou conheça a língua, parecerá inteiramente inteligível.

9) Clausura ou Fechamento
Os elementos de uma forma tendem a se agrupar de modo que formem uma figura a mais total ou fechada.

Clausura 4

 

Conclusão

Essas tendências ou princípios, dependendo de sua intensidade podem produzir efeitos diferentes, devemos sempre lembrar que, para a Escola da Forma, o todo não é apenas a soma das partes, sua essência depende da configuração das partes.
A partir disso, podemos trazer ainda algumas considerações e conceitos finais: a transposição das formas, por exemplo, é de um valor muito grande dentro do que foi dito no parágrafo anterior; podemos transpor a mesma forma a partir de elementos diferentes, de modo que a forma original ainda possa ser reconhecida, como em:

OOXX
OO, XX

ou em uma melodia cujas notas sejam aumentadas todas em um tom, ou seja, o todo é a configuração de seus elementos, mas também difere de acordo com os elementos em si. Porém, não podemos nos esquecer da parte-todo, isto é, que as partes dependem da natureza do todo.
Por último, vale ressaltar, mais uma vez, a subjetividade na percepção: deve-se levar em conta a experiência vivida pelo sujeito, o seu nível de conhecimento ou familiaridade com o assunto tratado et sic per omnia.
Enfim, a Escola da Gestalt não se limitou apenas à percepção, mas expandiu suas teorias a várias áreas de conhecimento, revolucionando a psicologia e influenciando diretamente muitos pensadores. Pode-se dizer, por exemplo, que o behaviorismo de Skinner bebe basicamente da fonte da Gestalt.
Esta foi e continua sendo uma escola revolucionária e de um imenso valor histórico. [1]



[1] Texto obtido dia 24/05/2008 no Site – design em fatias– Autora –Juliana Fausto -ano 1999

 

5.2 ORGANIZAÇÃO PERCEPTUAL – ASSIMILAÇÃO E CONTRASTE; FIGURA E FUNDO

Somos bombardeados por estímulos físicos todo o tempo e, para compreendê-los, formamos organizações perceptuais (termo que se aplica tanto ao processo de organização quanto ao resultado em si). Há várias maneiras de se organizar esses estímulos, e, de fato, o fazemos, mas de tal modo que exista sempre apenas uma: nunca há dois tipos de organização em um só momento. Esse empreendimento se dá de maneira espontânea, inerente ao indivíduo, porém o consciente pode exercer um papel nesse processo, pois a organização perceptual ocorre dentro e fora da consciência: se a pessoa quiser, poderá criá-la conscientemente, mas se não o fizer, o inconsciente agirá.
Um ponto importante no processo de organização perceptual é a diferenciação do campo perceptual. A maneira com que a forma é apresentada pode, por exemplo, suscitar fenômenos como a associação e o contraste.
O primeiro destes princípios diz respeito a uma homogeneização das partes da forma a que somos compelidos quando não há fronteiras entre elas, ou quando não as percebemos. Os contornos se tornam importantes neste sentido: tendemos a tornar cada parte homogênea em matéria de luz; a assimilação pode acontecer quando há proximidade, especialmente quando estas áreas próximas não estão delimitadas. Já o contraste consiste em perceber-se uma diferença maior do que ela realmente é, e ocorre quando há uma separação das partes, quase de maneira contrária à assimilação.
Porém deve-se sempre lembrar que, tanto assimilação como contraste são “regidos” pela organização perceptual total, podendo, até mesmo haver a ocorrência dos dois fenômenos em um mesmo objeto, dependendo de, por exemplo, qual o fundo sob o qual está a figura. Estes dois conceitos, fundo e figura, são os mais simples da forma de organização perceptual: em qualquer campo diferenciado, uma das partes sempre parece “saltar”, se salientar em relação às outras. A ela damos o nome de figura, sendo o fundo todo o resto.
O que nos permite diferenciá-los, enxergar uma separação entre ambos é o contorno: uma fronteira física que mais parece pertencente à figura, conferindo forma a ela. Se há uma inversão, se a figura passa a parecer fundo e vice-versa, então o contorno passará, logicamente, a parecer pertencer à nova figura. A figura sempre parece possuir o contorno. Se, em uma forma, não fica muito clara essa separação (sendo que sempre veremos uma parte como figura e outra como fundo; o que pode não ficar claro é o que qual das partes é definitivamente), há uma flutuação, percebemos alternadamente os elementos como figura e fundo; porém, sempre um de cada vez, e sempre um. Ao acontecer essa flutuação, o contorno passa a nos parecer completamente diferente em cada um dos casos. Pode acontecer, também, de algo ser definido como figura embora não haja um contorno, uma linha física que o delimite: esse fenômeno é conhecido como fechamento e é muito comum, posto que certas formas estão de uma maneira que nos pareça completa, não cabendo ali nenhum tipo de modificação; é como se elas se bastassem, fossem suficientes, enfim, completas em si.
Na determinação de o que é figura e fundo influem diversos fatores, como tamanho e localização, ou, caso esses sejam os mesmos, a área que for menor ou mais fechada. Geralmente, o que pode ser agrupado com mais facilidade, pareça seguir uma “linha”, for mais homogêneo, ou até mesmo o que for mais conhecido para quem observa (e aí entra a questão da subjetividade na percepção) passará a ser visto como a figura. Há até mesmo a influência do sistema nervoso e outros processos do tipo nessa determinação.
Figura e fundo são diferenciados não só em formas visuais, vale lembrar; tendemos a separá-los em todas as experiências de percepção. Na chamada música pop, por exemplo, geralmente percebemos a voz do cantor como figura e o instrumental como fundo, como acompanhamento.

5.1 A GESTALT COMO TEORIA FILOSÓFICA

Em um âmbito filosófico (a Gestalt chegou a ser considerada uma ‘filosofia da forma’), pode-se dizer que foi deixado de lado o ego cogito cartesiano para, como Husserl (que foi, de fato, mestre de Koffka, um dos papas desta escola), adotar-se um ego cogito cogitatum: não há uma ruptura entre consciência – ou sensação, no caso da escola da forma – e mundo. O “resíduo” a que se pode chegar por uma redução, uma dissecação do real – ou de uma forma – não é o “eu penso”, mas a correlação entre o eu penso e o objeto de pensamento (o ego cogito cogitatum). Em suma, não existiria consciência enquanto tal, mas toda consciência seria consciência de.
Isso, porém, não se dá de forma separada, como pretendiam os associacionistas (escola da psicologia que predominou no século XIX), mas concomitante: tomemos como exemplo um carro na estrada, passando em direção contrária a você. Para os associacionistas, há um intervencionismo do pensamento, ou seja, suas sensações lhe dizem que o carro está diminuindo de tamanho à medida em que se afasta, mas, sendo conhecedor das leis da física, ou mesmo já tendo passado por esta experiência, seu pensamento reagiria, corrigindo o equívoco. O dado sensorial seria menos real que a percepção, e interpretado de acordo com a experiência.
Já para a Gestalt, isso tudo aconteceria de uma só vez e não através da experiência, mas de acordo com o que é dado na situação em si. Cada vez seria diferente, se apenas um dos elementos formadores diferisse; o todo seria o que há de mais importante, o que vale aqui não é a experiência, todavia o agora e o que é dado nesse agora. Percebe-se de maneira diferente de acordo com o contexto em que o objeto/excitante está inserido, nossa sensação é global e varia dependendo do evento/forma.
Essa foi a concepção que acabou, por assim dizer, “triunfante” em relação à outra, e seus defensores, Max Wertheimer, Kurt Koffka e Wolfgang Köhler, acabaram por se tornar figuras de maior importância na Escola da Gestalt.
Essa teoria da forma não se manteve apenas dentro dos limites da psicologia, mas pretendeu se estender à Física e à Filosofia, admitindo a existência de formas fisiológicas e de formas físicas, além das formas psicológicas: as primeiras dizem respeito aos organismos vivos, que funcionariam do todo para o uno; as células seriam dependentes do organismo e não o contrário porque este teria a capacidade de se adaptar. As segundas tratam do mundo físico: este tenderia, também, a um equilíbrio total, uma busca da boa forma, mais homogênea e simétrica. Finalmente, as formas psicológicas, que são colocadas de uma maneira bem materialista: os gestaltistas não admitem a existência de um espírito, de alma, mas que tudo se reduz à matéria bruta, sendo as formas psicológicas o subjetivo das fisiológicas e estas apenas reduzidas às formas físicas.

5. GESTALT

A Gestalt surgiu nas primeiras décadas do século XX como uma espécie de resposta ao atomismo psicológico, escola que pregava uma busca do todo psicológico através da soma de suas partes mais elementares; o complexo viria pura e simplesmente da reunião de seus elementos mais simples, era uma escola de adição. A Escola da Forma dizia o contrário: não podemos separar as partes de um todo, pois dele elas dependem e não fazem sentido, pelo menos o mesmo, senão enquanto partes formadoras daquele todo.

Em seu início, havia duas correntes na Gestalt, a dos dualistas e a dos monistas: os primeiros acreditavam existir uma percepção mental que diferiria da sensorial. Sendo assim, perceberíamos os elementos separadamente e só então eles formariam o todo através de uma ação do espírito, de uma percepção mental. Um desenho, por exemplo, não é um todo, mas o que estaria produzindo a forma total que percebemos, o que ligaria seus elementos seria o espírito. Encontram-se nessa corrente muitos resquícios do atomismo psicológico, enquanto que os monistas realmente romperam com eles, ao sustentarem que as partes dependem mais do todo que ele destas, que é ele quem as determina. Para os monistas o esquema da percepção seria, basicamente: estímulos sensoriais -> forma -> sensação.

Para os monistas, forma e matéria não são separáveis, os elementos de uma forma não existem em si, singularmente, isso só seria possível através de abstração. Todos os elementos aparecem ao mesmo tempo, e um individuo observar um ou outro, tomar um ou outro como figura ou fundo tornaria a experiência diferente. Cada parte é percebida como elemento formador do todo, pertencente a ele.

4.2 TEMPO CRONOLÓGICO

Existem algumas características na progressão topológica da expansão da matéria que nos permitem quantizar linearmente o tempo cronológico. Um bom exemplo é a organização fractal das moléculas de cristais, onde quatro átomos de carbono se organizão formando um tetraedro. Ao crescer as moléculas se encaixam formando sólidos platônicos. Essa organização molecular vibra em freqüências de pulso constante e foi muito utilizada na constituição de relógios de quartzo.

Desde 1967 o segundo é definido com base na medição de relógios atômicos, como:  “O segundo é a duração de 9.192.631.770 períodos da radiação correspondente à transição entre dois níveis hiperfinos do estado fundamental do átomo de césio 133.”

 

Uma freqüência observada em uma reação química, uma transformação do átomo do césio em relação a progreção do fluxo temporal é a medida utilizada no mundo inteiro. Através dela foram criadas medidas universais como:

TAI (Tempo Atômico Internacional ou Temps Atomique International): Tempo Atômico Internacional. É calculada pelo Bureau International des Poids et Mesures (BIPM) a partir da leitura de mais de 260 relógios atômicos localizados em institutos e observatórios de metrologia ao redor do mundo. No Brasil o Observatório Nacional participa da geração do TAI. Estima-se que o erro do TAI em relação a um relógio imaginário perfeito esteja em torno de 100ns por ano.”[1]

“TUC (Tempo Universal Coordenado) ou UTC (Universal Time Coordinated): É a base para o tempo legal no mundo todo, inclusive no Brasil. O UTC acompanha o TAI, mas é disciplinado pelo período solar. Para ajustar o UTC em relação ao período solar é acrescentado ou removido um segundo sempre que necessário. Isso é chamado de segundo intercalado, ou leap second, e ocorre aproximadamente a cada 18 meses. Assim, assegura-se que o Sol esteja exatamente sobre o meridiano de Greenwich as 12h, com um erro máximo de 0,9s. O UTC é então o sucessor do GMT (Greenwich Mean Time), que era a escala de tempo utilizada quando a definição de segundo era baseada no dia solar.”[2]

Podemos entender uma progressão linear do tempo e criar maquinas para metrificá-la, porem apenas com a nossa percepção, sem a utilização de maquinas o tempo é organizado com grande potencial de variações. Tais variações e as influencias que o tempo musical pode causar na organização perceptual do tempo cronológico serão detalhadas no capitulo 6.



[1]  (Atualizado em ( 15-Set-2008 )  Escrito por Marcos Centeno Hemann

Site – (http://www.engenheiromarcos.com.br/index.php) visitado em 24/10/2008)

[2] Ibid

4.1 A IRREVERSIBILIDADE DO TEMPO

Para falar da irreversibilidade do tempo utilizarei o Segundo Principio da Termodinâmica.

“Dado um sistema, isto é, uma porção arbitrária de espaço, o segundo principio diz que existe uma função, a entropia, que podemos decompor em duas partes: um fluxo entrópico proveniente do mundo externo e uma produção de entropia própria do sistema considerado.

É esta produção de entropia interna que é sempre positiva ou nula, e que corresponde aos fenômenos irreversíveis. Todas as reações químicas são irreversíveis.”[1]

Figura 10: Sistemas e entropia

Figura 10: Sistemas e entropia

 

Dado um sistema onde dois tanques de gás são interligados por um tubo onde o tanque da esquerda tem muito gás e o da direita tem pouco o gás do tanque da esquerda passa para o da direita em um movimento de equilíbrio entre os dois. Se um dos tanques for aquecido a preção deste aumenta impulsionado o gás para o outro tanque. Este movimento de reformulação do sistema é chama entropia.

 

Por mais que as mesmas proporções sejam encontradas em momentos distintos, as relações com o sistema externo serão outras. Como no discurso de Heráclito que diz “não se banha duas vezes no mesmo rio”.

 

Um bom exemplo de entropia está na imagem de jogar óleo sobre a superfície de água. Antes do óleo se espalhar, ele se encontra  concentrado em seu recipiente e ao cair sobre a água, se espalha. Este movimento do óleo se espalhando e se organizando de forma diferente na nova dimensão de espaço na qual ele agora bóia é chamado de entropia.

 

O tempo nasce quando esta matéria explode e se expande em direção ao nada. Como o óleo na superfície da água, a matéria se expande em alternâncias de ordem e caos. Surge então uma segunda característica do tempo: a probabilidade.

 

Por ter que passar pelo caos para se reorganizar, por mais que as leis de causa e efeito direcionem a ordem, ela não é 100% previsível, sendo o destino sempre provável. Por exemplo, é provável que o óleo se espalhe pela superfície da água até que fique em muitas bolinhas pequeninas. Porém, pode acontecer do óleo não se espalhar em mais do que duas ou três bolhas na superfície. No entanto, existe um nível de coerência em sua expansão.

 

A coerência aparece na forma de padrões. Neste caso é coerente, ou melhor, é um padrão, que o óleo se espalhe e forme bolinhas, não triângulos ou quadrados!

 

O tempo é então, um movimento de expansão que obedece a uma constante reformulação alternando ordem e caos coerentemente em padrões através de probabilidades.

 

 

 

 

 

 

 


[1] (PRIGOGINE, Ilya. O Nascimento do Tempo; Transcrição de uma conferência apresentada por Ilya Prigogine em Roma a 12 de fevereiro de 1987)

 

4. ASPECTOS FÍSICOS DOS FENÔMENOS TEMPORAIS

Figura 9: O TEMPO É A EXPANSÃO DA MATÉRIA

Figura 9: O TEMPO É A EXPANSÃO DA MATÉRIA

A observação e cálculos constantes das localizações dos astros no espaço levaram os astrofísicos a concluírem que o universo esta em expansão. Tal conclusão deu origem à teoria do Big-bang. A teoria diz que o universo tem início em uma explosão onde toda a massa do universo se encontrava condensada em uma esfera do tamanho de uma maçã com um grande nada em torno. O tempo nasce quando a matéria explode e se expande em direção ao nada.  O que torna tempo e espaço diretamente relacionados e interdependentes.

3.2 HIERARQUIAS NA IDENTIFICAÇÃO DE SONS MUSICAIS NO PONTO DE RECEPÇÃO DOS SINAIS ACÚSTICOS

Um aspecto característico de todos os processos de reconhecimento de padrões é a “perda de informações seletivas”. Isso está relacionado à forma de operar do sistema nervoso: mínimo esforço, máxima eficiência. Para ser capaz de selecionar estímulos portadores de informação significativa dentre a terrível complexidade da entrada sensorial total (e, assim, ser capaz de identificar objetos e as suas inter-relações causais), o sistema deve contar com uma série de “filtros” que ajudam a separar os detalhes que são relevantes daqueles que não são. Esses “filtros” devem estar “sintonizados” com certas características invariantes dos estímulos e que são consideradas relevantes (por transferência de informação genética, ou como resultado de um processo de aprendizagem). Na percepção sonora, o primeiro e mais “primitivo” elemento de entrada a ser reconhecido pelo sistema nervoso provavelmente é a intensidade, com o seu correlato perceptivo, o volume. Esse correlato não depende muito de nenhum outro detalhe de estrutura do estimulo, exceto do fluxo total de energia acústica. O próximo elemento auditivo de entrada a ser considerado é a periodicidade do som (representada pela distribuição espacial dos máximos de ressonância, ou pela distribuição temporal de pulsos neurais). Desse processo de reconhecimento é extraída a sensação de altura subjetiva. O terceiro nível de refinamento é a consideração do espectro de potência do som, que leva à sensação de timbre.

3.1 ASPECTOS OPERACIONAIS DO SISTEMA NERVOSO AUDITIVO

A unidade fundamental de processamento e transmissão é a célula nervosa ou neurônio. Podemos distinguir o corpo celular, uma série de elementos ramificados chamados dendritos e uma fibra alongada, o axônio, que também pode se abrir em múltiplas ramificações. Os dendritos e o corpo celular são os receptores dos sinais neurais de entrada, e o axônio é o transmissor, passando-os para os outros neurônios. Esses sinais neurais consistem em impulsos elétricos (variações de voltagem elétrica) da ordem de dezenas de milivolts, que se originam no fluxo de átomos eletricamente carregados (íons) pela membrana da célula. Esses impulsos podem ser registrados pela implantação de microeletrodos dentro do neurônio (um procedimento que não afeta a função normal da célula). No axônio, todos os impulsos, chamados de potenciais de ação, têm aproximadamente a mesma forma e duração (dezenas de milissegundos), e se propagam do corpo da célula para as terminações do axônio. Uma mensagem neural “interligada” é dada pela velocidade e distribuição no tempo com que ocorrem os disparos de impulsos individuais ao longo do axônio.
O axônio está “ligado” aos dendritos ou corpos celulares de outros neurônios. Os pontos de contato são chamados de sinapses. Um determinado axônio pode estar em contato sináptico com muitas outras células; por outro lado, uma determinada célula pode estar conectada aos axônios provenientes de centenas de outras células. Um impulso que chega a um contato sináptico causa a libertação de uma substancia química pela célula pré-sináptica no espaço entre as membranas celulares de ambas as células (fenda sináptica). A presença dessa substancia dispara um impulso elétrico na célula pós-sináptica, o “potencial pós-sináptico”. Os potenciais sinápticos são sinais analógicos com formas variadas e duração maior do que os potenciais digitais de ação padronizados, que se propagam pelo axônio. Existem dois tipos distintos de sinapse, que se propagam pelo axônio. Existem a sinapse excitadora e a inibidora, evocando potenciais sinápticos de polaridade opostas. Se, num certo instante, um neurônio recebe uma quantidade de estímulos excitadores que exceda o numero de sinais inibidores que chegam simultaneamente em um certo valor-limite, o neurônio responderá, disparando um impulso no axônio. Caso contrário, ele permanecerá em silêncio. Concluímos que os dendritos e suas sinapses funcionam como o sistema de coletagem e integração de informação do neurônio – representando assim a unidade fundamental de processamento de informação do sistema nervoso.

“É importante observar que o que irá determinar se um sinal de saída será ou não disparado por um neurônio é a distribuição espacial e temporal dos sinais de entrada provenientes dos neurônios pré-sinápticos. Por outro lado, muitos neurônios disparam potenciais de ação espontaneamente a uma razão característica. Um neurônio especifico pode transmitir apenas ordens excitadoras ou inibidoras aos outros neurônios. Quando um neurônio inibidor dispara um pulso para outro neurônio inibidor, ele cancela o efeito inibidor deste ultimo. Existem indícios de que a resposta dos neurônios ligados às células capilares da fileira interna é excitadora, sendo inibidora a da fileira externa” (Sokolich e Zwislocki, 1974).

“Existe um atraso de tempo característico (normalmente menos que um milissegundo) entre a chegada de um impulso numa sinapse e a formação da resposta na célula pós-sináptica. Esse atraso de tempo possibilita que a ativação neural disparada por um único estimulo externo possa subsistir ou “reverberar” por um tempo considerável, quando ela se propaga por uma serie de milhares de passos sinápticos sucessivos no tecido cerebral. Isso pode ser um processo-chave na elaboração de padrões dependentes do tempo na atividade neural”…

A reverberação do estímulo pode ser relacionada à interpretação dos eventos na memória recente, como distâncias de ataques de notas, distinção e similaridades entre padrões rítmicos e melódicos, ou distintas intensidades dinâmicas. A reverberação do estimulo possibilita a interação dos dados os relacionando em um sistema, que está relacionado diretamente com a sensação de presente, não apenas ao sistema do cogito cognato, mas um sistema que codifica e trás ao presente a presença da percepção ao ser codificada.

“… Depois de cada ativação, um neurônio tem um período refratário, durante o qual ele não pode ser reexcitado, ou durante o qual o seu limite de disparo é elevado”

Figura 8: Fenda Sináptica - Código de Barra – Reverberação do Estimulo