8.2 SEMELHANÇA E PIANO PHASE, STEVE REICH

       A lei da “Semelhança” ou “Similaridade”, possivelmente é a lei mais óbvia e possivelmente a lei que nos mostra o tipo de variação da percepção que ela pode causar de forma mais evidente. Esta lei  define que os objetos similares tendem a serem agrupados pela  percepção humana. A “Similaridade” pode estar entre as cores dos objetos, entre as textura e  sensação de massa dos elementos. Estas características podem ser exploradas quando desejamos criar relações ou agrupar elementos na composição de uma figura. Por outro lado, o mau uso da “Similaridade” pode dificultar a percepção visual como, por exemplo, o uso de texturas semelhantes em elementos do “fundo” e em elementos do primeiro plano.

Figura 22: Semelhança exemplo 2 - Estrela

Figura 22: Semelhança exemplo 2 – Estrela

 

          “Nesta figura, as três unidades estelares básicas sobrepostas se segregam claramente pelos fatores de proximidade e de semelhança (sobretudo pelas formas triangulares e pelas cores). A figura como um todo aparentementa uma unificação apenas razoave, por apresentar alguns ruidos visuais – acima da unidade central – e, sobretudo, pelo deslocamento da superposição das três unidades basicas, que compromete sua harmonia em termos de uma ordenação equilibrada.”[1]

 

          A analise das probabilidades de variações perceptuais com esta lei perceptual da Gestalt teve seu foco em cima da técnica de “Phase Shift” desenvolvida por Steve Reich neste trabalho. Steve Reich é um dos expoentes mais conhecidos do Minimalismo norte-americano. O Minimalismo, como fruto direto do experimentalismo norte-americano levou às últimas consequências os processos de repetição. Portanto, o minimalismo se define não apenas por processos de repetição, mas por processos sistemáticos de repetição. Podemos ter uma ideia do que Reich tinha em mente quando desenvolvia estas técnicas através algumas de suas palavras em seu manifesto minimalista escrito em 1968 e publicado em 1974 pela Writing About Music:    

 

 

           “Eu não quero dizer processo de composição, mas sim obras que são literalmente processos. O que é distintivo em um processo musical deste tipo é que ele determina todos os detalhes, de nota para nota, de uma composição, e toda a sua forma simultaneamente, Estou interessado em processos perceptíveis. Quero ser capaz de ouvir o processo acontecendo através do fluxo de toda a extensão da música…Processos musicais podem nos dar contato direto com o impessoal e também um tipo de controle completo…por esse “tipo” de controle completo eu quero dizer que, ao fazer esse material se articular através desse processo, eu controlo completamente todos os resultados, mas também aceito todos os resultados sem mudanças.”[2]

 

            A peça articula um mesmo padrão de doze notas, apresentado inicialmente no piano I (P.1) na seqüência logo introduzida, em uníssono, pelo piano II (P.2). A partir daí o piano II gradualmente defasa em relação ao  piano I, através de um sutil accelerando, até a segunda semicolcheia do padrão repetido no piano II (Fá #) se encontrar com a primeira semicolcheia (Mi) do padrão repetido no piano I (o piano I mantém sempre uma mesma velocidade). Quando existe um alinhamento dos padrões (quando os dois instrumentistas estão tocando na mesma velocidade e sincronizados) o padrão é repetido de 16 a 24 vezes até a próxima defasagem ser iniciada. Quando existe uma nova defasagem esta se dá no período de tempo entre 4 e 16 repetições.

Exemplo Musical  13:  Padrão constante de Piano Phase   P1

Exemplo Musical 13: Padrão constante de Piano Phase P1

Figura 23: Padrão constante de Piano Phase

Figura 23: Padrão constante de Piano Phase

E F# B C# D F# E C# B F# D C#
PH ex M 14                                                                      PH F 23 01        PH F 23 01
E F# B C# D F# E C# B F# D C#
E F# B C# D F# E C# B F# D C#

PH ex M 15                                                                              PH F 23 01      PH F 24

E F# B C# D F# E C# B F# D C#
F# B C# D F# E C# B F# D C# E
PH ex M 16                                                                            PH F 23 01  PH F 25
E F# B C# D F# E C# B F# D C#
B C# D F# E C# B F# D C# E F#
 PH ex M 17                                                                              PH F 23 01PH F 26
E F# B C# D F# E C# B F# D C#
C# D F# E C# B F# D C# E F# B

Exemplo Musical  18: 4ª defasagem

 

PH F 23 01PH F 28
E F# B C# D F# E C# B F# D C#
D F# E C# B F# D C# E F# B C#
PH ex M 19
PH F 23 01PH F 29
E F# B C# D F# E C# B F# D C#
F# E C# B F# D C# E F# B C# D
PH ex M 20
PH F 23 01PH F 30
E F# B C# D F# E C# B F# D C#
E C# B F# D C# E F# B C# D F#
PH ex M 21
PH F 23 01PH F 31
E F# B C# D F# E C# B F# D C#
C# B F# D C# E F# B C# D F# E
PH ex M 22
E F# B C# D F# E C# B F# D C#
B F# D C# E F# B C# D F# E C#
PH ex M 23
E F# B C# D F# E C# B F# D C#
F# D C# E F# B C# D F# E C# B
PH ex M 24
E F# B C# D F# E C# B F# D C#
D C# E F# B C# D F# E C# B F#
PH ex M 25
E F# B C# D F# E C# B F# D C#
C# E F# B C# D F# E C# B F# D
PH ex M 26
E F# B C# D F# E C# B F# D C#
E F# B C# D F# E C# B F# D C#

                  Podemos observar uma relação entre as duas leis semelhança e proximidade na figura a seguir:

As linhas estão perfeitamente alinhadas horizontalmente, no entanto nossa percepção desenvolve inúmeras variações da realidade curvando as linhas ou atribuindo movimento as figura que é inerte.

                                      Gestalt 01

         Exemplo de semelhança e proximidade com linhas alinhadas horizontalmente


[1]  Gestalt do Objeto: sistema de leitura visual da forma / João Gomes Filho.

São Paulo, Escrituras Editora, 2000.

 

[2] REICH, Steve. Writings about Music. Halifax: Nova Scotia College of Art and Design, 1974 (pag.9, 10)