5.2 ORGANIZAÇÃO PERCEPTUAL – ASSIMILAÇÃO E CONTRASTE; FIGURA E FUNDO

Somos bombardeados por estímulos físicos todo o tempo e, para compreendê-los, formamos organizações perceptuais (termo que se aplica tanto ao processo de organização quanto ao resultado em si). Há várias maneiras de se organizar esses estímulos, e, de fato, o fazemos, mas de tal modo que exista sempre apenas uma: nunca há dois tipos de organização em um só momento. Esse empreendimento se dá de maneira espontânea, inerente ao indivíduo, porém o consciente pode exercer um papel nesse processo, pois a organização perceptual ocorre dentro e fora da consciência: se a pessoa quiser, poderá criá-la conscientemente, mas se não o fizer, o inconsciente agirá.
Um ponto importante no processo de organização perceptual é a diferenciação do campo perceptual. A maneira com que a forma é apresentada pode, por exemplo, suscitar fenômenos como a associação e o contraste.
O primeiro destes princípios diz respeito a uma homogeneização das partes da forma a que somos compelidos quando não há fronteiras entre elas, ou quando não as percebemos. Os contornos se tornam importantes neste sentido: tendemos a tornar cada parte homogênea em matéria de luz; a assimilação pode acontecer quando há proximidade, especialmente quando estas áreas próximas não estão delimitadas. Já o contraste consiste em perceber-se uma diferença maior do que ela realmente é, e ocorre quando há uma separação das partes, quase de maneira contrária à assimilação.
Porém deve-se sempre lembrar que, tanto assimilação como contraste são “regidos” pela organização perceptual total, podendo, até mesmo haver a ocorrência dos dois fenômenos em um mesmo objeto, dependendo de, por exemplo, qual o fundo sob o qual está a figura. Estes dois conceitos, fundo e figura, são os mais simples da forma de organização perceptual: em qualquer campo diferenciado, uma das partes sempre parece “saltar”, se salientar em relação às outras. A ela damos o nome de figura, sendo o fundo todo o resto.
O que nos permite diferenciá-los, enxergar uma separação entre ambos é o contorno: uma fronteira física que mais parece pertencente à figura, conferindo forma a ela. Se há uma inversão, se a figura passa a parecer fundo e vice-versa, então o contorno passará, logicamente, a parecer pertencer à nova figura. A figura sempre parece possuir o contorno. Se, em uma forma, não fica muito clara essa separação (sendo que sempre veremos uma parte como figura e outra como fundo; o que pode não ficar claro é o que qual das partes é definitivamente), há uma flutuação, percebemos alternadamente os elementos como figura e fundo; porém, sempre um de cada vez, e sempre um. Ao acontecer essa flutuação, o contorno passa a nos parecer completamente diferente em cada um dos casos. Pode acontecer, também, de algo ser definido como figura embora não haja um contorno, uma linha física que o delimite: esse fenômeno é conhecido como fechamento e é muito comum, posto que certas formas estão de uma maneira que nos pareça completa, não cabendo ali nenhum tipo de modificação; é como se elas se bastassem, fossem suficientes, enfim, completas em si.
Na determinação de o que é figura e fundo influem diversos fatores, como tamanho e localização, ou, caso esses sejam os mesmos, a área que for menor ou mais fechada. Geralmente, o que pode ser agrupado com mais facilidade, pareça seguir uma “linha”, for mais homogêneo, ou até mesmo o que for mais conhecido para quem observa (e aí entra a questão da subjetividade na percepção) passará a ser visto como a figura. Há até mesmo a influência do sistema nervoso e outros processos do tipo nessa determinação.
Figura e fundo são diferenciados não só em formas visuais, vale lembrar; tendemos a separá-los em todas as experiências de percepção. Na chamada música pop, por exemplo, geralmente percebemos a voz do cantor como figura e o instrumental como fundo, como acompanhamento.