6.2 FLUXO TEMPORAL E AGÓGICA

          Os eventos são comparados em suas relativas distâncias para percebemos suas existências no fluxo temporal, um exemplo está na figura abaixo, onde a barra superior mostra os segundos e o desenho do piano, logo abaixo, mostra a representação das localizações das notas do Prelúdio No.2 em Dó menor do Cravo Bem temperado de Bach como está grafado na partitura, em uma interpretação de localizações “absolutas”  (sem interpretação agógica) pelo sistema MIDI.

Figura 11: Exemplo MIDI Fluxo temporal e Agógica

Figura 11: Exemplo MIDI Fluxo temporal e Agógica

Exemplo Musical  4: Prelúdio da Fuga No.2 em Dó menor do Cravo Bem Temperado de Bach

Exemplo Musical 4: Prelúdio da Fuga No.2 em Dó menor do Cravo Bem Temperado de Bach

 

           Percebemos que captamos os eventos e organizamos suas localizações na seqüência cronológica. Ao perceber ou calcular o começo e o fim de cada evento obtemos suas durações. Durações estas que tem começo, meio e fim podendo ser vistas como Ataque (1), Ressonância (2) e Decaimento (3) na figura abaixo:

Figura 12: Envelope

Figura 12: Envelope

           Um fato de grande importância na interpretação do tempo musical é a agógica. Um interprete varia as durações em sua interpretação mesmo que elas estejam escritas da mesma forma dando características humanas à sucessão de eventos. Podemos ver um exemplo destas relações na figura abaixo que mostra uma gravação da interpretação de Christiane Jaccottet do Prelúdio da Fuga No.2 em Dó menor do Cravo Bem Temperado de Bach:

Figura 13: Interpretação e agógica

Figura 13: Interpretação e agógica

 

           Perceba como umas notas duram mais que as outras na interpretação de Christiane, valorizando o momento em que estas aparecem, acima de suas durações escritas. Se tais probabilidades de interpretação ocorrem na interpretação da execução é bem provável que variações ocorram na interpretação do ouvinte, ou por valorizações de momentos que são relativos ao sistema musical ou pela infinidade de fatores que podem levar um ouvinte a aumentar, diminuir e relacionar as durações variando suas localizações em relação ao fluxo temporal.

 

           No capitulo The Psychology of Time Perception de Kramer uma descrição cientifica pode nos dar maior profundidade sobre o assunto:

 

“…Psicólogos mostraram aquele tempo subjetivo geralmente não igual do tempo do relógio. No processo de experimentar e se lembrar de comprimentos de tempo então, nós os alteramos. Porém, estão se enganando ao pensar em alterações de tempo subjetivo como distorções. Duração subjetiva é mais relevante à compreensão de música que a duração medida pela diferença potencial entre a duração aparente de um timespan que está em memória e a memória é a memória da duração que o timespan parecia ter quando originalmente foi ouvido. Em outras palavras, nossa experiência de duração pode não concordar em retrospecto com nossa experiência de duração passanda. Além disso, nenhum destes comprimentos subjetivos necessariamente corresponde à duração do relógio.”[1]

           Kramer fala não somente da variação agógica da execução levantando a relação agógica encontrada na valoração de alguns momentos na audição. Da mesma maneira que um interprete estende a duração de algumas notas buscando uma valorização daquele momento o ouvinte pode variar em distintas durações sua audição por uma valoração subjetiva interna.

 


[1] KRAMER, Jonathan. The Time Of  Music

New York: Schirmer Books, 1988 Pag. 326