8.3 LEI DE WEBER, TROCA DE FIGURA E FUNDO EM KOYAANISQATSI, VESSEL, PHILIP GLASS

http://youtu.be/PirH8PADDgQ
Koyaanisqatsi: Life Out of Balance, é um filme documentário de 1983 dirigido por Godfrey Reggio com música de Philip Glass e cinematografia de Ron Fricke.

        O filme consiste primariamente de imagens de arquivos em câmera lenta e em time-lapse, mostrando cidades e muitas paisagens naturais dos Estados Unidos. Com o visual de poema sinfônico. O filme não contém nenhum diálogo ou narração, sua narrativa é estabelecido pela justaposição de imagens e música. Reggio explica a falta de diálogo dizendo, “Não é por falta de amor à linguagem que estes filmes não têm palavras. É porque, do meu ponto de vista, nossa linguagem está em um estado de vasta humilhação. Não descreve mais o mundo em que vivemos”. Na língua hopi, Koyaanisqatsi significa “vida maluca, vida em turbilhão, vida fora de equilíbrio, vida se desintegrando, um estado de vida que pede uma outra maneira de se viver”.

        O filme é o primeiro da trilogia Qatsi: foi seguido por Powaqqatsi (1988) e Naqoyqatsi (2002). A trilogia mostra diferentes aspectos das relações entre humanos, natureza e tecnologia. Koyaanisqatsi é o mais conhecido dos três e é considerado um filme de linha cult.

        A trilha  é constituida de seis faixas. A escolhida para o laboratorio foi a segunda chamada Vessel composta para uma Soprano, 2 Alto, 2 Tenor, Baixo, Flauta, Sax Soprano, Sax Tenor e sintetizadores (SAATTB/FLT/SSAX/TSAX)

“A lei de Weber indica que o limiar é proporcional ao excitante, isto é, que o acréscimo do excitante necessário para que possamos distingui-lo do precedente deve ser tanto maior quanto maior for esse próprio excitante. Essa lei combina perfeitamente com a idéia de que esse acréscimo não é percebido em si mesmo, mas em função do excitante ao qual se acrescenta. A comparação não é ato acrescentado a percepções absolutas; seja simultânea ou sucessiva, é forma da organização da percepção, na qual as partes dependem do todo. Percebe-se uma forma, um contraste, um progresso, e é natural que a diferença percebida não seja independente do nível alcançado.” [1]

 

                “A tendência da teoria é de precisar a similitude dos fenômenos e dos processos cerebrais. A organização da percepção depende das propriedades do meio cerebral no qual se realiza. Uma dualidade de objetos visíveis corresponde a uma dualidade no processo cerebral. Quando a figura se destaca do fundo há, no campo psicofísico, separações de duas fases   (tomando esta palavra no sentido que possui em física).”[2]

 

        Ao estabelecer padrões rítmicos com distintas velocidades de pulso, como em Vessel, obtemos duas fases Criadas pelas configurações rítmicas destes padrões. Da mesma forma que no exemplo do vaso e dos rostos observamos que existe a troca entre figura e fundo na audição dos padrões musicais. Padrões que  se intercalam mudando de fase ao trocarem suas organizações rítmicas e  instrumentais.  Os instrumentos que eram fundo saltam a frente mudando de fase ao passo que mudam de pulso. Estes agora se tornam figura a frente de  um novo fundo estabelecido pela mudança de fase simultânea. Desta forma observamos uma constante reformulação no padrão do soprano. Padrão constituído por Mi, Fa, Mi, Fá, se organiza em pulsos binários (como em um 6 por 8) em quanto as outras vozes  atacam em semínima pontuada. Ao mudar o padrão das outras vozes para semínimas, o pulso do padrão da soprano passa a ser organizado em ternário (como um 3 por 4). Tais relações estão demonstradas no exemplo musical 27 que corresponde ao inicio da musica.

Exemplo Musical  27: Inicio de Vessel - Soprano, Altos e Tenor

Exemplo Musical 27: Inicio de Vessel – Soprano, Altos e Tenor

 

        A velocidade é um dos dados mais perceptíveis e um dos recursos mais evidentes na fisiologia da percepção. O fundo ao qual  os dados contrastam para serem percebidos se distinguem pela velocidade. Assim como as frequências se distinguem em oscilações por segundo as notas mais agudas são percebidas a frente das graves, mesmo tendo o mesmo numero de decibéis, são percebidas como se fossem mais fortes em intensidade do que as graves. O mesmo deve acontecer aos BPMs mais rápidos que os lentos. O Experimento 3 nos mostra que as marcações dos tempos mais rápidos são sentidas como pulsação a frente das lentas em polirritmias. Na analise do experimento 3 com Vessel podemos comprovar esta relação. Na segunda seção, mais precisamente na segunda entrada dos sintetizadores e flauta que fazem arpejos em semicolcheias, podemos constatar a influenciaram considerável na pulsação em ciclos binários de 6 por 8, ou seja, em semínimas pontuadas. Os mesmos arpejos são tocados em sextinas de semicolcheias na terceira seção o que levou os participantes a serem influenciados a organizarem suas percepções em pulsos ternários, ou seja, em semínimas. Observemos tais comparações relacionando os exemplos musicais 28 e 29 logo abaixo:

 

Exemplo Musical  28: Segunda seção após os arpejos em semicolcheias, Vessel

Exemplo Musical 28: Segunda seção após os arpejos em semicolcheias, Vessel

Exemplo Musical  29: 3ª seção após os arpejos em sestinas, Vessel

Exemplo Musical 29: 3ª seção após os arpejos em sestinas, Vessel

        Os sintetizadores e a flauta iniciam esta seção em sextinas de semicolcheias, fazendo a mesma sequência de arpejos, mas ao invés de dois arpejos por compasso, como na seção anterior em semicolcheias, três. Este início de seção aumenta a probabilidade dos padrões serem organizados em compassos de 3 por 4, aumentando a probabilidade da sensação de pulso ser percebida desta forma, consequentemente aumentando a probabilidade dos outros instrumentos serem organizados nesta pulsação. Tanto por começarem a seção sem os outros instrumentos na outra pulsação quanto por sua velocidade como vimos na lei de Weber.

Exemplo Musical  30: continuação da 3ª seção após as sextinas, Vessel

Exemplo Musical 30: continuação da 3ª seção após as sextinas, Vessel

 

       Semelhança: Igualdade de forma ou cor, desperta também a tendência de se construir unidades e estabelecer agrupamentos.

       Em Vessel, as repetições constantes das frases tornam a igualdade das “duas” formas, que ganham maior conexão por carregarem o mesmo material harmônico (a mesma cor) contrastado pela dupla dimensionalidade rítmica que se apóia em um mínimo múltiplo comum estabelecendo um agrupamento construindo uma unidade em maior escala.

Figura 32: Semelhança e alinhamentos de padrões organizando padrões de maior escala

Figura 32: Semelhança e alinhamentos de padrões organizando padrões de maior escala

 

Nas figuras acima podemos ver esta tendência de construir unidades de maior escala quando existe semelhança na constituição dos padrões e em seus alinhamentos. Padrões maiores feitos de menores organizados pela lei da semelhança combinados ao alinhamento de padrões.


[1] GUILLAUME, Paul. A Psicologia da Forma 2ªed São Paulo: Nacional, 1966 (Pag.87)

[2] GUILLAUME, Paul. A Psicologia da Forma 2ªed São Paulo: Nacional, 1966 (Pag. 92)