LOOP E

Loop E é uma composição que se destaca das demais em Tao Caos & Cronus por seguir uma linha diferente em sua constituição. Um Loop em uma de minhas seções de produção eletroacústicas desencadeou uma série de misturas com Shuffles e frases de música africana. Uma vertente do Drum´N´Bass que mistura Jazz com ritmos eletrônicos foi uma grande influência no período em que Loop E foi criada. Minhas maiores influências foram Amon Tobin e Venetian Snares. Neste âmbito a minha grande influência bateristica foi Jojo Mayer que reproduz ritmos eletrônicos e os mistura com Jazz de forma singular.
A mistura com o Shuffle possibilitou polirritmias entre 4 e 3, pois o Shuffle nasce de um 12 por 8, mínimo múltiplo comum entre 3 e 4. Através desta sobreposição introduzi variações de ritmos africanos, mais especificamente da linhagem Dunumba originários da Republica da Guiné (Guiné Conakry). Os ritmos Dunumba tem uma retórica de transformação onde através de sobreposições rítmicas como estas se transita de um trecho a outro. Neste momentos de transição varia-se também a velocidade do andamento com o intuito de aquecer a dança. Denominam então este ritmo de transição de échauffement que em uma tradução literal do Frances seria “esquentamento”. Pude me aprofundar um pouco mais na pesquisa destes ritmos através do contato com Luis Kinugawa e Fanta Konate no centro cultural Famoudou Konate em 2006. Os ritmos Dunumba são executados tradicionalmente por dois tipos de tambores, três tambores de formatos tubulares com diâmetros diferentes chamados de Dununs e Djembes com formatos de pilão. Os Dununs recebem nomes diferentes para cada diâmetro, o pequeno Kenkeni, o médio Sangban e o grande Dunumba. Nos échauffement encontramos uma célula rítmica constante muito parecida com a condução do Shuffle no Kenkeni, por isso escolhi conduzir este trecho no Tom 1 que mais se parecia com o kenkeni. O Dunumba foi feito pelo bumbo e resolvi fazer o Sangban na caixa. O Kenkeni e o Dunumba fazem uma trama rítmica em 6 enquanto o Sangban desenvolve uma acentuação de 4 em 4 tempos dos 6 gerando a polirritmia de 3 contra 4. Não segui nenhum ritmo de forma estrita, mas para os conhecedores de Dunumba muitas frases soaram familiares. Este trecho me levou a desenvolver um padrão em 12 por 8 juntamente a condução do Shuffle com a caixa marcando o tempo 4 por quatro. Após tocar algumas vezes desloquei as acentuações da caixa pelo padrão em 12 colocando-os em locais inesperados. O Baixo acompanha o 12 do bumbo enquanto a guitarra acompanha os ataques em 4 da caixa. Este trecho esta repleto de efeitos sonoros e transforma totalmente a retórica da música chegando no ápice dinâmico da peça.
O Loop inicial me remeteu a sonoridade da escala alterada e o segundo elemento a ser composto foi um som de sintetizadores que cita esta sonoridade criando uma atmosfera com Deley e filtros no LFO. Foi difícil, mas me propus a manter o Loop na peça inteira, Quando se anda em torno desta proposta devemos criar novidades em torno do mesmo material constante para gera inovações constantes com a intenção de manter a atenção do ouvinte. Marcelo Pereira ao gravar o saxofone sugeriu passar por outras escalas retornando a escala alterada em suas citações. O solo foi improvisado desta forma e a meu ver muito bem executado, o que me levou a mantive o take inteiro sem alterações.
O baixo foi gravado por Ricardo Strani com um Baixo Vertical Fretlles. Podemos notar os glisandos constantes no groove do baixo. O som deste tipo de instrumento é muito utilizado nesta vertente citada do Drum´N´Bass. Strani também utilizou efeitos e oitavadores durante as gravações para atingir todas as probabilidades da proposta musical.
Não posso deixar de citar a influência de Dennis Chambers e Rick Latham em todo o discurso da música. Tive meus primeiros contatos com frases de Funk e Shuffle que intercalam mãos com pés através de vídeos do Dennis Chambers. Devo falar também que Advanced Funk Studies de Rick Latham foi meu livro de cabeceira entre 1997 a 1999, neste período tocava os solos finais do livro pelo menos uma vez todos os dias, sem exceção.