CONSTELAÇÃO No. 5

Esta peça se inicia com um approach melódico feito nos tambores e pratos da bateria, onde desenvolvi uma sequencia de rudimentos e a distribuí gerando uma melodia com uma certa repetição dentro do padrão rítmico utilizado. Juntamente a este discurso melódico desenvolvi a parte mais Hi-Tech do disco. Inúmeros efeitos sonoros criam uma ambiência que representa a movimentação de uma constelação.
A técnica composicional predominante na constelação No.5 é uma derivação de uma técnica desenvolvida por Steve Reich o “phase shifting”. Técnica esta que consiste em sobrepor padrões ou um padrão sobre ele mesmo, deslocando-o em direção a próxima nota, como uma rotação em torno de si. Desta forma o padrão se repete sobrepondo os padrões cada vez de uma forma, levando o ouvinte a ter dificuldade de distinguir o inicio de cada ciclo. Tive meu primeiro contato com esta técnica através da apresentação que um grande professor e orientador Roberto Saltini me fez da obra de Reich. A música utilizada em meu laboratório de pesquisa foi Piano Phase, Steve Reich, que provocou inúmeras variações da percepção do tempo cronológico como das marcações de inicio de cada ciclo.

A derivação que criei ocorre primeiramente pela permanência rítmica do padrão, mas não das alturas. As alturas variam de acordo com o andamento da harmonia, porem com as mesmas proporções dos intervalos iniciais. A rotação e sobreposição do padrão ocorre através da utilização de um Delay, efeito de áudio que promove a repetição de um trecho musical como uma gravação em cima de si mesmo, muito parecido com um eco. Esse efeito esta programado para repetir o padrão a partir de uma colcheia pontuada em cima de um padrão de semicolcheias. Esta sobreposição gera uma polirritmia de três contra quatro. A formula de compasso da música é cinco por quatro, o que estende a polirritmia a um terceiro plano onde os padrões se completam em ciclos de cinco agrupamentos de semicolcheias. Desta forma, no panorama geral a polirritmia sobrepõem cinco contra quatro contra três. A primeira metáfora com uma constelação veio por meio destas rotações em torno de si que tanto os padrões quanto as constelações desenvolvem. Para executar este padrão escolhi a guitarra, por ter uma vasta produção com o efeito de áudio citado, Delay. As guitarras foram gravadas por Ricky Lucas que além de executar os padrões com grande destreza deixou sua marca no disco com um belíssimo Solo.

Para a bateria acompanhar tal técnica desenvolvi um outro padrão de dois compassos de cinco por quatro direcionados ao bumbo. Através do mínimo múltiplo comum entre quatro e cinco, vinte semínimas, sobrepus a condução, marcação constante feita pelo chimbal e caixa gerando um padrão de quatro por quatro. Desta forma podemos observar uma polirritmia neste âmbito mais amplo de cinco contra quatro contra três executada também pela bateria. Além desta condução criei um dialogo entre a rítmica do cinco no bumbo com a do quatro nas mãos. O chimbal mantem a marcação padrão de quatro enquanto a caixa hora marca em cinco hora em quatro gerando um desenvolvimento retórico em ambas formulas de compasso. O Baixo fortalece a harmonia e este padrão rítmico feito pelo bumbo. Tanto o bumbo quanto o baixo andam encima do mesmo padrão levando o sentido melódico que o baixo cria na harmonia para o nível da percussão. Biek Yohaitus foi o ilustre baixista que gravou tais padrões, demonstrando tanto sua versatilidade quanto precisão rítmica. No segundo trecho da música estendi esta variação para o Bumbo, desta forma o dialogo entre as três formulas rítmicas se desenvolve pelas três peças da Bateria (caixa, Bumbo e Chimbal) nos encaminhando ao ponto culminante.

No ponto culminante da peça desenvolvi uma convenção que direciona a música para um ápice tanto melódico quanto rítmico e dinâmico. Este é o trecho de maior velocidade, o que acarrete em um trecho de maior densidade de notas. Esta densidade eleva a dinâmica, assim como a densidade de estrelas no centro de uma galáxia brilha com mais intensidade que o seu entorno.